A Trajetória de André Borges

Jornalista brasileiro que lutou contra a ditadura militar

André Borges e Willian da Silva Lima

Amigos na Cinelândia

André Borges e Willian da Silva Lima, este último autor do livro "400 contra um"

José André Borges é um jornalista brasileiro que lutou contra a ditadura militar. Em seu livro "A Fuga - rumo à luta armada contra a ditadura", ele conta como escapou da prisão e se juntou à guerrilha urbana nos anos 1960.

Prisões

André foi um jornalista e membro da ABI (Associação Brasileira de Imprensa). Ele ficou 21 anos atrás das grades, passando por diversas delegacias e penitenciárias:

Lemos de Brito (do complexo Frei Caneca)

Fortaleza de Santa Cruz

Durante sua prisão na Fortaleza, ele se casou:

Ao chegar na capela, André aguardou por sua esposa Janaide. Quando ela entrou vestida de vermelho, criou-se um clima de afronta no ar e um silêncio tomou conta do lugar, mas no fim tudo ocorreu bem apesar do silêncio constrangedor, por conta de apenas um vestido vermelho (vestido este que foi preparado pelos visitantes e familiares dos presos da fortaleza, improvisado na hora).

Ilha Grande (prisão destruída no governo de Brizola)

MEMÓRIA DOS TEMPOS TENEBROSOS

Elza Barreto

Você é um herói dos anos de chumbo amigo poeta! Me partiu o peito ao ler sua carta, mas confesso que ao mesmo tempo me sinto tranquila em ver que você é sobrevivente daqueles tempos tenebrosos!

Reencontrei virtualmente algumas pessoas que militaram conosco na clandestinidade após mais de 30 anos, alguns já se foram e outras ainda vivem, mas perdemos contatos novamente, sem saber o que aconteceu com elas!

Um deles foi exilado no Chile, só fui saber nomes originais de todos(as) após a anistia quando saiu no jornal Classe Operária e na TV! Procurei em páginas e grupos por anos pelos codinomes, com muito custo consegui contatos com poucos(as)! Às vezes me dá uma nostalgia e nó no peito por não ter mais notícias de ambos!

Um abraço solidário para você e aos seus!
Carta enviada por Elza quando André já estava em liberdade

A Ditadura

A trajetória de André Borges é, no mínimo, intrigante. Ele foi preso em abril de 1958, aos 25 anos, por assalto à mão armada.

Durante esse período, ele se tornou um leitor voraz e se conscientizou politicamente e também se tornou-se o elo entre os presos comuns e os presos políticos, que começaram a ser encarcerados após o golpe de 1964.

Apesar de estar perto de sua libertação, ele participou com outros nove detentos em uma fuga armada ocorrida na Penitenciária Lemos Brito em 1969.

A fuga foi para participar efetivamente da luta armada e a expropriação de um banco foi o primeiro e único ato político de André, preso dois meses após a fuga. Ele permaneceu preso por 21 anos e foi libertado apenas em 1979 após cumprir sua pena.

A Fuga

Em 26 de maio de 1969, houve uma fuga da Penitenciária Lemos de Brito, no Rio de Janeiro. Nove presos escaparam, com a ajuda de um grupo armado que atacou a penitenciária. André Borges estava entre os nove fugitivos. Ele estava cumprindo uma pena de 13 anos [A informação sobre a pena não está diretamente nos trechos, mas a recaptura após 70 dias sugere que ele não havia cumprido 21 anos naquele momento]. A fuga foi considerada audaciosa e bem planejada, com coordenação de dentro para fora da prisão. Durante a fuga, um guarda (Ailton Oliveira) e um transeunte foram mortos. André Borges trabalhava na portaria da penitenciária na época, o que o tornou uma peça importante para a fuga. A ameaça de tirá-lo da portaria antecipou os planos do grupo.

Da fuga à luta armada

Após a fuga, ele se integrou à luta armada contra a ditadura. Ele atuou na Frente de Libertação Nacional (FLN), uma organização que pretendia criar uma frente única de resistência ao regime.

Vida clandestina

Ele participou de diversas ações armadas, como assaltos a bancos,a primeira ação que participou após a fuga, um assalto a banco em 6 de agosto de 1969, o grupo foi cercado e preso. André Borges foi recapturado em agosto de 1969, cerca de 70 dias após a fuga. Ele foi levado para o DOI/CODI-BJ, onde foi torturado. Ele menciona ter ficado deformado devido à tortura e ter perdido dentes. Ele ficou 70 dias clandestino.

Da luta armada à redemocratização

André Borges sobreviveu à repressão e ao fim da luta armada no início dos anos 1970. Tendo sido beneficiado da Lei da Anistia apenas em 1979, retomou sua vida civil.

Luta pela Anistia: Greve de fome (1979)

Após 21 anos de prisão, André foi liberto, 3 dias antes da greve de fome da anistia.
(em uma sexta-feira 13 de sorte)

André sendo liberto após 21 anos preso

Quando se tornou jornalista profissional, ele trabalhou em diversos veículos de comunicação.

Foi um dos fundadores do PDT (um partido trabalhista) e membro do Diretório Estadual do Rio de Janeiro. Ele trabalhou como assessor do Desipe (Departamento Estadual do Sistema Penitenciário) e posteriormente transferido para o Desire (Departamento de Ressocialização do Sistema Penitenciário) no governo de Brizola no Rio de Janeiro, onde atuou na área de Administração Penitenciária.

André trabalhou como assessor no Desire durante governo do Brizola

Foto da quarta capa do livro "Da Ilha Grande ao Poder"

André Borges é um exemplo dos que viveram na pele os horrores da ditadura militar e que usou sua experiência para denunciar os crimes do regime e defender a democracia no Brasil.